Muito se ouve falar sobre grupos de riscos nessa pandemia, nos quais determinadas condições propiciam consequências mais graves aos pacientes acometidos pelo Coronavírus. Entre os variados quadros críticos, em determinado aspecto estão as pessoas obesas.
Para o melhor entendimento dessa questão, a professora da Universidade de São Paulo (USP), Silvia Sales-Peres, salienta que “vários fatores contribuem para o agravamento da infecção no organismo obeso. Um deles é a capacidade limitada de produzir interferons (classe de proteínas secretada por células de defesa e essencial para inibir a replicação viral) e anticorpos. Além disso, o tecido adiposo funciona como um reservatório para o vírus, mantendo-o mais tempo no organismo”.
Segundo a especialista, a carga viral potencialmente maior não é o único problema dos pacientes com índice de massa corporal (IMC) elevado. Já que estudos atuais apontam que “a inflamação crônica de baixo grau típica da obesidade – causada pelo aumento excessivo das células adiposas – faz com que a tempestade de citocinas inflamatórias desencadeada pelo SARS-CoV-2 seja ainda mais lesiva ao pulmão”. Em outras palavras, na tentativa de reagir contra o vírus, o organismo promove uma resposta exagerada e prejudicial a si mesmo. O que torna isso preocupante é o fato de que é basicamente essa perda de controle da inflamação que provoca a forma grave da COVID-19.
Em relação às disfunções respiratórias em pessoas obesas, o que acontece é uma menor capacidade de comportar o ar nos pulmões. Isso ocorre em razão da pressão do abdômen (barriga) de uma pessoa obesa ser capaz de impedir que o pulmão se expanda adequadamente nos momentos de dificuldade para respirar. Sales-Peres explica que “os obesos já costumam apresentar a função respiratória prejudicada, pois o tecido adiposo comprime o diafragma e impede a movimentação normal do órgão. Há, portanto, diversos fatores concorrentes que tornam esses pacientes mais predispostos a depender de ventilação mecânica e outros cuidados intensivos caso contraiam a COVID-19. Nos estudos que analisamos, 9,4% dos obesos internados em UTI evoluíram para óbito”.
Com esse cenário de pandemia no Brasil, essas são questões a se atentar, pois “os dados do Vigitel em 2018 indicam um crescimento de 30% na prevalência do sobrepeso na população brasileira em relação a 2006. Se consideradas apenas as pessoas entre 18 e 24 anos, o aumento foi de 55,7%. Dessa forma, discutir os riscos entre obesidade e COVID-19 passou a ter grande importância”, comenta Sales-Peres. Assim, torna-se pertinente que as pessoas sejam alertadas sobre a importância de se protegerem contra o vírus, a fim também de “ajudar o serviço público a se preparar para a potencial demanda por cuidado intensivo”, completa.
Segundo a especialista, no início da pandemia e mediante o avanço das pesquisas em abril, “ainda não estava tão claro que a obesidade seria considerada um fator de risco importante para a COVID-19”, contudo, hoje sabe-se que a obesidade pode ser um fator influente para consequências mais graves pela ação do Coronavírus no organismo das pessoas.
Por fim, essa vulnerabilidade decorre também do fato de que indivíduos com obesidade tendem a apresentar maior probabilidade de desenvolverem outras doenças, como diabetes, problemas no coração e nos rins, além do risco metabólico pela associação com hipertensão e aumento da gordura no sangue (dislipidemia). Portanto, tão importante quanto a perda de peso, é a preservação e garantia de sua saúde nesta pandemia.
FONTES:
https://coronavirus.saude.mg.gov.br/blog/90-covid-19-e-obesos